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quarta-feira, novembro 16, 2005

Paulinho Moska & Kevin Johansen

Imperdível o show, único, que assisti agora há pouco no Centro Cultural Carioca. Paulinho Moska, cada vez mais surpreendente, apresentando seu parceiro Kevin Johansen, um americano que nasceu no Alaska e vive na Argentina - ou seja, os extremos da América, toda ela traduzida na música que esse cara faz - e como faz....

São parceiros e amigos de Jorge Drexler, outro cantor latino americano, do Uruguai. Os três fazem mais pela América Latina e pela integração desse continente ao mundo do que qualquer outro. A música que escutei agora há pouco é algo que integra todas as diferenças que existem nesse continente numa coisa única, perfeita, maravilhosa.

Quem não foi hoje, corra prá ver amanhã. É imperdível.

Ouvir SUR O NO SUR ao vivo é uma experiência indescritível. Pelas janelas do Centro Cultural Carioca avista-se a perfeição arquitetônica do Real Gabinete Português de Leitura, e a lua estava cheia. Um cena carioca de um Rio de Janeiro cada vez mais distante. Mas sempre possível.

E a recomendação foi do Artur Dapieve, do Globo. Valeu!

Taí a coluna dele, de 9 de setembro, que recuperei na internet:

Coluna do Arthur Dapieve, em 09/09/2005

A sensação foi de déjà-vu. Antes de começar o show do uruguaio Jorge Drexler no Canecão, em 1 de junho passado, Paulinho Moska se aproximou da mesa e entregou-me um CD-R. “Kevin Johansen”, anunciou. “Nasceu no Alasca e mora na Argentina. Quando ouvi, senti o mesmo de quando ouvi o Drexler pela primeira vez.”

Em 2002, Moska recebeu de uma fã uruguaia o CD-R do compatriota dela. Ficou impressionado e regravou-o para, entre outros, Celso Fonseca. Ele também adorou e regravou para mim. Por outros caminhos, simultaneamente, Walter Salles convidava Drexler a compor para “Diários de motocicleta”, futuro Oscar de melhor canção.

Moska, portanto, tem crédito na casa. Não o desperdiçou louvando Johansen, que não tem CD lançado no Brasil. Da mesma classe de Drexler, a de 1964, o americano-argentino lembra bastante o médico montevideano. Não no corpo, isto é, não na concretude do som, bem mais pop, e sim na alma, na sofisticação de canções cheias de referências.

Dizer que Johansen faz música latino-americana, porém, seria meia-verdade. Não só porque ele nasceu em Fairbanks, no Alasca, filho de argentina com americano. Não só porque ele conheceu a terra da mãe apenas aos 12 anos. Não só porque, aos 26, voltou aos EUA, para viver e fazer música em Nova York por quase uma década mais.

O disco que Moska me copiou, “City zen”, fora lançado por Johansen em 2004. Tem pouco mais de uma hora de duração. É como se trouxesse — não em seqüência — meia hora de música latino-americana, cantada em espanhol, e meia hora de rock alternativo norte-americano, cantado em inglês. Talvez por isso consiga fisgar até os surdos de espírito, que consomem qualquer bobagem dos EUA, sem ouvir o que nos dizem nossos vizinhos.

No meio do CD, fica a bilíngüe “La Falla de San Andrés”, na qual o sujeito justifica o bolo que deu no aniversário do casal: “A terra tremia e as pessoas rezavam/ Perguntei a um homem, ‘o que foi, mister ?’/ Ele me falou algo da Escala Richter/ (...) Não foi minha culpa desta vez/ Foi a Falha de San Andrés”. A faixa é dedicada ao mexicano César Hernández Grajeda, dito El Chícharo, e ao americano David Byrne, ex-Talking Heads.

Como geografia é destino, a música de Kevin Johansen é uma viagem musical entre o Alasca e a Terra do Fogo, na qual ele foi coletando gêneros com a voracidade dos que estão sempre de passagem. Nos seus dois discos anteriores, “The nada” (2000, gravado ainda no CBGB’s, em Nova York, no qual ele foi músico residente aos sábados) e “Sur o no sur” (2002, já da atual fase portenha, indicado a três Grammy latinos), ele até anotava na qual o gênero das faixas, descritas, por exemplo, como tango, samba, cumbia flamenca, tex-mess, zydeco rush, popklore, milonga hall ou Barry White meets Nirvana.

Em “City zen”, já a partir da capa uma viagem de ônibus por Buenos Aires, Johansen não inventa gêneros para suas composições, mas usa dedicatórias para sinalizar um percurso. Assim, além de Chícharo e de Byrne, ele homenageia seus compatriotas Atahualpa Yupanqui (“Atahualpa, you funky!”) e a trupe cômico-erudita Les Luthiers (“Oops”), além do brasileiro Tom Zé (“Tom Zen”).

Sua música não se esgota nos jogos de palavras. Pelo bilingüismo, pelo ecletismo, pela instrumentação variada e pelo grande alcance vocal, a audição de um CD de Johansen pode sugerir ao ouvinte desatento uma coletânea com vários artistas das Américas. De quebra, ele oferece alguns poemas recitados, como o filotabagista “Volutas de humo”, de Salvador Angel Molinari, incluído em “City zen”.

Neste, o melhor dos seus três álbuns com a banda The Nada, há três participações especialíssimas: Drexler, autor da letra e co-intérprete da elegante “No voy a ser yo”; o compatriota León Gieco, na decadentista “Milonga subtropical” (“milonga do Rio Grande do Sul para cá”, pagos tão distantes das capitais que “o aquecimento global nunca chegou a nos aquecer de todo”); e Miranda Johansen, sua filha então com sete anos.

A menina transforma os vocais de apoio do sereno rock “Everything is (Falling into place)” numa das passagens mais comoventes que ouvi recentemente. Enquanto isso, papai canta “você sabe que eu tenho um coração pop/ O que mais eu posso dizer?/ Eu amo músicas simples/ Que qualquer um possa tocar/ Veja esta garotinha/ Ela tem sete anos/ Você a escuta cantar/ Você escuta a sua alma”. Johansen fala de si próprio, claro.

Porque, nele, o intelecto e a emoção estão muito bem calibrados. Isto se torna bem audível em duas canções de amor contíguas, “All I wanna do is you” e “Desde que te perdí”. Na primeira, o apaixonado se compara a “um soldado, lutando uma guerra/ Contra todos, a realidade se tornou/ Seu pior inimigo, agora você é sua musa/ Você é sua munição”. A segunda dribla os clichês do abandono com “estão todas se enamorando por mim/ E algumas até querem me convencer/ Que com elas poderia ser feliz”.

Sempre que as agendas permitem, Johansen, Drexler e Moska têm dado canjas uns nos shows dos outros, em Buenos Aires ou Montevidéu, enquanto sonham com um projeto trinacional chamado “Mercosurf”. Antes dele, em outubro ou novembro, o argentino deve fazer sua primeira aparição brasileira, dividindo o Centro Cultural Carioca com Moska.

1 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Adoro música latina e Jorge Drexler é tudo de bom!!! Pelo menos o pouco que ouvi dele gostei bastante...

8:20 PM  

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