javascript:void(0)

quinta-feira, fevereiro 09, 2006

BROKEBACK MOUNTAIN - II

Ver Brokeback Mountain pela segunda vez é, antes de tudo, uma experiência estética. As paisagens são belíssimas, a natureza exuberante. Poder prestar atenção em cada detalhe daquela montanha, dos rios e da neve preenche a nossa alma com a beleza, com a perfeição.

Experiência estética também é prestar atenção à trilha sonora, com cuidado. Desde “Brokeback Mountain” até a música de Bob Dylan, “He was a friend of mine”, cantada por Willie Nelson enquanto passam os letreiros finais – aqueles que na sessão de domingo, cheia, a gente nem vê, pois todo o cinema se levanta na nossa frente. É uma trilha sonora perfeita para o filme. Triste e belíssima.

E ver Brokeback Mountain pela segunda vez é, outra vez, mergulhar numa belíssima e triste história de amor e de impossibidades.

É ver que há muito pouco tempo atrás, lá pelos anos 60/80, dois homens viverem um amor era algo quase impossível. Não que hoje seja absolutamente permitido... mas é bem mais fácil. A cena das duas crianças sendo levadas pelo pai para ver o cara assassinado – que exemplo queria mostrar o pai ao fazer isso?

As duas mulheres – que representação das mulheres o diretor consegue fazer. Uma que descobre que o marido gosta de um cara, se separa dele e troca a vida medíocre que levava com ele para outra vida medíocre com outro marido – seu chefe no supermercado...
E a mulher de Jack, Lureen, que é decidida e faz o que quer de sua vida – resolve transar com o cowboy bonito – e o próprio Jack explicita isso, ao dizer “rápido ou não, estou gostando da direção que você está dando” – é ela que quer, é ela que se casa com ele, e fica o tempo todo cuidando dos negócios – o papel do homem? Vive um mundo de irrealidades, e a própria versão contada por ela ao final mostra isso – pra que se preocupar e enfrentar a realidade?

Triste papel o das mulheres naquela época também, tão bem mostrado pelo diretor. Mulheres coadjuvantes nessa história, e coadjuvantes também na vida de seus maridos. E olhem, isso não foi há tanto tempo assim.

É ver mais uma vez o cruel diálogo entre Ennis e o pai de Jack – e a cumplicidade e a tensão entre o pai e a mãe do Jack – a tensão na forma com a qual cada um dos dois aceitava a história do filho e o que Ennis representava para Jack, e como o viam.

E por fim, ver Brokeback Mountain pela segunda vez é ver a história de amor de dois homens, história que me faz chorar, história que mostra a impossibilidade que as pessoas se impõem em sua vida. Ver a perda, e ver como não percebemos que temos que viver as histórias enquanto estamos vivos. Ennis descobriu isso tarde demais.
É ver a transformação de Jack num homem que, ao mesmo tempo que consegue enfrentar seu sogro, consegue tomar a iniciativa mais dolorosa de sua vida .....
É ver Ennis Del Mar não conseguindo viver nada em sua vida – nem seu amor por Jack, nem sua relação com qualquer mulher – ele se anula, ele é o nada – e Jack é o culpado de tudo o que ele vive, como ele próprio admite – o culpado ou a única saída que ele tem, são com ele os únicos momentos em que ele se sente vivo...
É esse mesmo Ennis tendo um momento de ciúmes na vida, quando fala do México. Tipo assim, o primeiro momento em que ele quer lutar pelo que ama. Mesmo que esse amor seja algo que deixe o outro totalmente sem possibilidade de viver.

É ver dois homens belíssimos, Jack Gyllenhall e Heath Ledger – também, porque não, uma experiência estética? E um filme que me tocou muito. Deu vontade de ler o conto que deu origem ao filme.


P.S. - Graças a meu amigo Cris F., consegui o texto do conto. Também é dele um dos mais belos comentários sobre o filme, que transcrevo: "Acho que este é o filme mais tocante que assisti em anos e anos. Sai da sala de cinema triste, com olhos cheios de lágrimas. Acima de tudo um filme de amor. Difícil aparecer em 2006 um filme melhor que este".



6 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

CARA, MUITO OBRIGADO POR ME ENVIAR O CONTO POR E-MAIL. VOU LÊ-LO COM AVIDEZ. JACK NÃO TINHA CULPA DE NADA, ERA NA REALIDADE A SOLUÇÃO PARA A VIDA DE ENNIS, ESTE SIM UMA PESSOA QUE COM SUA INDEFINIÇÃO, SEU MEDO E RETRAIMENTO CONSEGUIU FAZER MUITOS INFELIZES. PRA MIM, JACK É VIDA E ENNIS É, VAMOS DIZER DE FORMA DELICADA, AUSÊNCIA DE VIDA. NÃO QUE A PERSONAGEM ENNIS ME DESAGRADE E GERE SENTIMENTOS NEGATIVOS, MESMO PORQUE NOS COMPADECEMOS DE SEU SOFRIMENTO, MAS ELE É TUDO QUE DECIDI NÃO SER EM MINHA VIDA. É TUDO DE QUE ESCAPEI PRA ME TRANSFORMAR NUM TIPO DE JACK TWIST TROPICAL. ISSO SÓ EU SEI, DE VERDADE.

12:26 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Que isso, vc ja viu duas vezes e eu nenhuma ainda!
Beijo!
Nina

2:24 PM  
Blogger Ale Lima disse...

Eu concordo com sua avaliação sobre o filme , só fico me perguntando se os personagens fossem héteros , se nossa avaliação seria diferente. Ver gays no cinema , diferente dos estereótipos, ver um filme com temática gay concorrer ao Oscar e ser aclamado pela história comovente , ver que é possível um dia a gente se deparar com esses fatos e eles não chocar é que dá uma conotação maior para o filme. Só espero que mais e mais diretores produzam esses enredos...Se é uma história , não importa o sexo..

11:34 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Ralph 2 x 0 Lu
E nada de eu assistir o filme...

11:15 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Querido... eu veria de novo, sem sombra de dúvidas! Mas sabe que foi uma experiência enriquecedora ter visto no dia seguinte 'Diário de uma Gueixa', que também fala de um amor impossível (Como Ang Lee já havia feito em 'O Tigre e o Dragão'), só que com final... digamos assim... um antídoto para Brokeback Mountain. Experimente!

8:35 PM  
Blogger Homem, Homossexual e Pai disse...

poxa, que legal esta descrição de ver brockback pela segunda vez! vou ler o texto pela segunda vez!
abs

9:56 PM  

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial