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domingo, dezembro 23, 2007

A Vida dos Outros

Amigos queridos consideraram o filme reacionário. Que só mostra um lado da questão, não levando em conta nem os aspectos positivos da Alemanha Oriental nem os aspectos negativos da Alemanha Ocidental. Sim, porque até 1989 o país era dividido em 2 – o lado Ocidental, e o lado Oriental, com um regime comunista, onde se passa a história do filme.

Deixando de lado as questões ideológicas, o slogan no cartaz do filme é perfeito: “Onde o poder é absoluto, nada é confidencial”. Pois para mim é esse o âmago do filme: a crítica aos regimes totalitários – e o fato de os regimes comunistas terem se tornado regimes totalitários não tira a força ideológica do comunismo e do socialismo e de sua proposta. E regimes totalitários tivemos em vários lugares do planeta, inclusive nessa nossa América Latina, nesse nosso país – e ver as pessoas terem que conversar com a música tocando alto, para não serem ouvidas pelos agentes do sistema traz tenebrosas recordações a todos que vivemos os anos 70 no Brasil.

O filme ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro ano passado. E é bom, não tenho a menor dúvida em afirmar isso. A criação do clima na cidade a poucos anos da derrocada do sistema, com os ambientes cinzentos – a cena do agente da Stasi – a polícia política da então Alemanha Oriental - conversando com a artista num bar absolutamente gélido, as pessoas sem reações é absolutamente representativa do clima da época.

Li aí pela Internet críticas e comentários sobre o filme. Para mim, o que tocou foi o que faz um regime totalitário na vida das pessoas – ou, falando de forma mais direta – o que esses regimes castram na vida das pessoas. A atriz se tornando uma colaboradora da Stasi é um exemplo de desespero das pessoas e da manipulação dos detentores do poder.

Os atores são brilhantes, em particular o casal de artistas e o agente encarregado de grampeá-los. Esse agente da Stasi é magistralmente interpretado por Ulrich Mühe, que morreu de câncer recentemente. O personagem sofre uma transformação ao longo do filme que é demonstrada através de seus atos contidos. De espião do casal, torna-se um “cúmplice” de toda a história, transformando seus próprios atos pessoais – a cena do elevador com o garoto e a bola é surpreendente.

E o final do filme é absolutamente envolvente. A “Sonata para um homem bom” e a dedicatória para o agente da Stasi me levaram às lágrimas. Belíssimo...

Enfim, gostei muito do filme.

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