Antes que o Diabo saiba que você está Morto
O cinema americano às vezes ainda produz um filme como esse. Um filme onde as pessoas são como as pessoas que conhecemos. Onde o perigo pode estar naqueles mais próximos a nós. Os personagens são perdedores, nada daquele “glamour” maniqueísta que estamos tão acostumados a ver no cinema americano.
O diretor (Sidney Lumet, de Um Dia de Cão) questiona a auto-imagem da América, e mostra o que acontece na sociedade e nas relações familiares baseadas no individualismo. Muito bem construído, com a sobreposição de tempos narrativos, com o entrelaçamento de pontos de vista diferentes de cada um dos personagens, o filme vai revelando um painel cruel dessa sociedade (só a americana?) em que o individual se sobrepõe a qualquer outro valor.
A história já está comentada por aí. Dois irmãos desejam assaltar uma joalheria familiar, pequena. O problema é que é a joalheria dos próprios pais. Eles precisam de dinheiro extra e planejam o crime perfeito, sem armas, sem violência, sem vítimas. Hank é um perdedor, um encostado, o eterno fracassado, enquanto o convencido Andy é um drogado cuja carreira numa grande corporação está prestes a ruir. A mulher de Andy tem um caso com Hank. Tudo corre aparentemente bem, mas como nem tudo é previsível, um cúmplice do esquema ignora as regras e ultrapassa os limites, desencadeando uma série de eventos que não vai encalacrando os personagens até o final surpreendente.
É uma família enfrentando seu pior inimigo – ela própria. Um filme angustiante e envolvente. Os atores estão ótimos e construindo seus personagens de forma impecável e perfeita – Philip Seymour Hoffman (Andy), Ethan Hawke (Hank), Albert Finney (o pai), Marisa Tomei (a mulher de Andy). Ethan Hawke ouvindo da filha ao telefone que ele é um fracassado é de uma crueldade ímpar.
Um filmaço.